Texto de reflexão apresentado após 8ª aula da disciplina SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA em Outubro de 2012. Profª. Dra. Maria Juraci Maia Cavalcante. Autora: Carolina Maria Costa Bernardo.
Quando entrei em sala fui surpreendida com a
presença de um músico convidado que estava dizendo a seguinte frase: o samba é europeu. Continuou explicando
sobre o conceito de Tonal para justificar a absurda informação e em seguida
compartilhou os conflitos que vivenciou na música quando decidiu estudar um
instrumento genuinamente europeu. E concluiu: não devemos nos envergonhar quando queremos assumir nossa europeização.
Confesso que demorei a entender a lógica daquele
discurso e onde, de fato, o músico queria chegar. Sabrina Linhares, nossa
colega de turma, que estava se apresentando com ele fez algumas perguntas na
continuidade que ajudaram a compreender melhor a razão da defesa surreal da
origem eurocêntrica de alguns instrumentos, sons e estilos. Qual a origem das
coisas? Quem copiou quem? Qual a origem do tambor e do pífano? Em seu texto
apresentado nesta aula Sabrina afirma:
“Nossas raízes musicais foram formadas pelos apitos, chocalhos e tambores indígenas, pelas flautas e clarinetas jesuíticas, pelos pífaros e rabecas que nasceram das mãos nativas que admiraram as flautas transversas e violinos dos colonizadores, pelos pianos e acordeons dos mais abastados, pelos coros sagrado e profanos, pelos metais do sopro das bandas familiares comunitárias, pelos trios de ‘arrastapé’ (sanfona, zabumba e triangulo), pelos violões e pandeiros populares, pelos tambores dos escravos no trabalho e libertos na música.”
Considero relevante a tese que as culturas se
interligam e que há muitas dúvidas sobre a origem genuína de muitos aspectos da
história universal. Nessa lógica, se não podemos afirmar a origem africana e indígena
porque podemos afirmar a origem européia? Por que na citação acima não estão citadas
as contribuições dos instrumentos ligados a áfrica? Ou será que a referência ao
negro se faz na citação “escravos
no trabalho e libertos na música”.
Por que diante de tantos predicados positivos ligados aos sujeitos de nossas
raízes na citação acima o adjetivo escravo tem que estar ligado aos negros? Não
será esse um exemplo da ideologização que tantos discutimos em sala? Será que a
universidade ainda não entendeu que escravização é uma condição social imposta
e não uma condição natural dos negros africanos?
Enquanto
universidades do mundo questionam e problematizam a imposição de uma ciência
eurocêntrica o Brasil insisti em afirmar as mentiras contadas e recontadas e se
nega a desenvolver uma postura crítica frente a esta ciência e ideologia nos
campus assim como se nega a reconhecer como ciência as diferentes formas em outras
culturas de se fazer conhecimento.
A
questão não é negar nossa europeização. Tampouco hipervalorizar apenas as
raízes indígenas e africanas em nossa formação. A questão é denunciar a forma
como os europeus se apropriaram do patrimônio histórico cultural de nações como
a África, Ásia e América. A questão é reescrever nossa história e a do restante
da humanidade que foi contada a partir de um viés ideológico. Não se pode
simplesmente continuar acreditando na excepcionalidade européia no tocante a
criação dos valores como a democracia, a liberdade, a igualdade de direitos,
bem como os conceitos civilizatórios de instituições como a família, a escola,
o estado, a universidades. Não podemos continuar endossando uma superioridade
cultural e ignorando as realizações de outras formas de sociedades, que também
desenvolveram estes conceitos como ilustrou a professora citando Jack Goody e o
livro O Roubo de Nossa História.
Concordo com Sabrina Linhares quando esta afirma que
precisamos saber de onde viemos para saber para onde vamos. Essa é a questão,
esse é nosso grande desafio. Buscar a ancestralidade como herança cultural,
nossa identidade histórica. E para isso é preciso desorganizar as coisas que a gente já sabe e deixar de acreditar em
tudo que foi escrito como obediência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário