Reflexões acadêmicas...
Castells, no prólogo de
A sociedade em rede, desenha um cenário mediado pelas novas
tecnologias da informação e comunicação e como estas interferem nas estruturas
sociais. Na 9ª aula desta disciplina, ancorada nos textos do autor acima citado,
as discussões giraram em torno de muitas problemáticas sociais resultantes
desta nova era, das quais quero destacar e discorrer sobre duas,
entrelaçando-as no contexto da educação.
A primeira problemática tem origem na indagação desafiadora que a
professora fez para turma: Qual
a relevância de se discutir a diferença na contemporaneidade?
A segunda, tão exaustivamente respondida em sala de aula pelos colegas, está
alicerçada em uma questão amplamente discutida nos campos: acadêmico, familiar
e institucional em geral: A escola está
em crise? Por quê?
A razão da escolha das
duas questões para o desenvolvimento desta produção escrita está na percepção
de que em ambas há uma relação estrutural dentro dos mecanismos institucionais
que configuram a sociedade. Não discutir a diferença enquanto categoria social é
favorecer a manutenção de uma sociedade individualista, opressora, excludente, racista,
classista, hipócrita, consumista, com valores ligados à acumulação de riqueza e
não a humanização da vida. Papel que a escola desempenha com louvor desde sua
criação na Idade Moderna.
Sabemos que a função
basal das instituições sociais é o controle
sobre as pessoas e sobre as relações que se estabelecem entre elas
(evidentemente as relações de saber-poder - assunto muito bem explorado por
Foucault nas obras Vigiar e Punir e em
a Micofísica do poder). Assim, para que
se efetive esta função são utilizados instrumentos sociais de controle da ordem
da moral, da justiça, da educação, do trabalho, da política, enfim, dos
sistemas que compõem a sociedade.
A Igreja profere o discurso
Cristão (Somos todos iguais perante Deus),
o Estado o discurso moderno da Igualdade (Somos
todos iguais perante a Lei) e a Escola o discurso Democrático (Educação de qualidade para Todos). Estes discursos são incorporados as práticas
de coerção que usam Deus, o Trabalho, a Ciência como argumentos para justificar
a existência das supracitadas instituições existentes, falseando o sentido de
sua finalidade, maquiando as razões de sua função.
Estes discursos levam a
práticas homogeneizadoras e higienistas, excludentes e discriminatórias,
determinantes para a manutenção do capitalismo e não convencem mais. Sabemos
que não somos todos iguais perante a deus nem perante a justiça; sabemos que o
regime democrático é uma falácia; sabemos que a escola não é para todos e que é
diferente para cada grupo. O que me preocupa, é se sabemos que as diferenças existentes
entre as pessoas, sejam, racial, religiosa. de classe, de gênero (ora negadas,
ora enfatizadas) são utilizadas como marcadores identitários da exclusão?
A escola reproduz conteúdos
mentirosos, práticas incoerentes, discursos hipócritas, vazios, contraditórios.
Como bem citou uma colega, fazendo referência a uma fala do primeiro ministro
espanhol, temos hoje uma escola do século XIX, com professores do séc. XX e
crianças do séc. XXI.
Voltando à questão: Por
que discutir diferença em tempos de crise na escola? É preciso assumir
socialmente a histórica função da escola e redefinir suas funções de acordo com
a necessidade desse tempo, dessa era de revolução tecnológica e mudanças tão
velozes. Para Castells as mudanças sociais são tão grandiosas como os processos
de transformação tecnológicos e econômicos. E nesse contexto de mudanças
confusas e incontroladas, as pessoas tendem a reagrupar-se em torno de
identidades primárias e afirmarem-se enquanto Eu e/ou Nós.
Como instituição social
a escola precisa começar a reconhecer as identidades primárias, discuti-las,
situá-las historicamente, diferenças culturais, éticas, regionais, ambientais,
sociais. Assim como deve assumir diferentes suas tarefas de acordo com o que a
comunidade em que está inserida espera dela: comunicação, conhecimento científico-empírico-religioso,
sociabilidade, mediação (normatização e resistência).
Não se pode olhar para
a humanidade e achar que devemos todos ter a mesma escola, a mesma religião, o
mesmo tipo de família, a mesma sexualidade, a mesma cor. Pensar a diversidade é
pensar numa ética humanista e humanitária que valorize as unidades para fortalecer
o universo maior em que elas estão inseridas dando-lhes direitos e
oportunidades iguais.
Pensar em direitos
iguais é pensar no bem estar social, afetivo, econômico. Não se pode achar que
ter direito a matar alguém é salutar. Pois tirar a vida de uma pessoa fere a
todos os princípios da ordem da Norma em todas as culturas e religiões.
Não podemos continuar
oferecendo para a classe média uma escola que apenas prepara seus filhos a
manter o conforto e o padrão de vida que permita o consumir às custas de
empregos públicos. Não podemos continuar a oferecer uma escola para a burguesia
que apenas prepara seus filhos para como produzir riqueza e explorar o trabalho.
Assim como, não podemos mais oferecer para o povo, assalariados, os pobres, os
pretos, uma escola que os ensina apenas a sobreviver a custa de uma opressão
silenciada. A escola não é mais garantia de sucesso, de educação, de saber que
oportuniza igualdade de oportunidades. Os discursos são falácias questionadas
desde a educação infantil por crianças, adolescentes, docentes e discentes.
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