sexta-feira, 4 de março de 2016

Qual a relevância de se discutir a diferença na contemporaneidade?

Texto de reflexão apresentado após 9ª aula da disciplina SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA em Outubro de 2012. Profª. Dra. Maria Juraci Maia Cavalcante. Autora: Carolina Maria Costa Bernardo.

Reflexões acadêmicas...
Castells, no prólogo de A sociedade em rede, desenha um cenário mediado pelas novas tecnologias da informação e comunicação e como estas interferem nas estruturas sociais. Na 9ª aula desta disciplina, ancorada nos textos do autor acima citado, as discussões giraram em torno de muitas problemáticas sociais resultantes desta nova era, das quais quero destacar e discorrer sobre duas, entrelaçando-as no contexto da educação.
A primeira problemática tem origem na indagação desafiadora que a professora fez para turma: Qual a relevância de se discutir a diferença na contemporaneidade? A segunda, tão exaustivamente respondida em sala de aula pelos colegas, está alicerçada em uma questão amplamente discutida nos campos: acadêmico, familiar e institucional em geral: A escola está em crise? Por quê?
A razão da escolha das duas questões para o desenvolvimento desta produção escrita está na percepção de que em ambas há uma relação estrutural dentro dos mecanismos institucionais que configuram a sociedade. Não discutir a diferença enquanto categoria social é favorecer a manutenção de uma sociedade individualista, opressora, excludente, racista, classista, hipócrita, consumista, com valores ligados à acumulação de riqueza e não a humanização da vida. Papel que a escola desempenha com louvor desde sua criação na Idade Moderna.
Sabemos que a função basal das instituições sociais é o controle sobre as pessoas e sobre as relações que se estabelecem entre elas (evidentemente as relações de saber-poder - assunto muito bem explorado por Foucault nas obras Vigiar e Punir e em a Micofísica do poder). Assim, para que se efetive esta função são utilizados instrumentos sociais de controle da ordem da moral, da justiça, da educação, do trabalho, da política, enfim, dos sistemas que compõem a sociedade.
A Igreja profere o discurso Cristão (Somos todos iguais perante Deus), o Estado o discurso moderno da Igualdade (Somos todos iguais perante a Lei) e a Escola o discurso Democrático (Educação de qualidade para Todos).  Estes discursos são incorporados as práticas de coerção que usam Deus, o Trabalho, a Ciência como argumentos para justificar a existência das supracitadas instituições existentes, falseando o sentido de sua finalidade, maquiando as razões de sua função.
Estes discursos levam a práticas homogeneizadoras e higienistas, excludentes e discriminatórias, determinantes para a manutenção do capitalismo e não convencem mais. Sabemos que não somos todos iguais perante a deus nem perante a justiça; sabemos que o regime democrático é uma falácia; sabemos que a escola não é para todos e que é diferente para cada grupo. O que me preocupa, é se sabemos que as diferenças existentes entre as pessoas, sejam, racial, religiosa. de classe, de gênero (ora negadas, ora enfatizadas) são utilizadas como marcadores identitários da exclusão?
A escola reproduz conteúdos mentirosos, práticas incoerentes, discursos hipócritas, vazios, contraditórios. Como bem citou uma colega, fazendo referência a uma fala do primeiro ministro espanhol, temos hoje uma escola do século XIX, com professores do séc. XX e crianças do séc. XXI.
Voltando à questão: Por que discutir diferença em tempos de crise na escola? É preciso assumir socialmente a histórica função da escola e redefinir suas funções de acordo com a necessidade desse tempo, dessa era de revolução tecnológica e mudanças tão velozes. Para Castells as mudanças sociais são tão grandiosas como os processos de transformação tecnológicos e econômicos. E nesse contexto de mudanças confusas e incontroladas, as pessoas tendem a reagrupar-se em torno de identidades primárias e afirmarem-se enquanto Eu e/ou Nós.
Como instituição social a escola precisa começar a reconhecer as identidades primárias, discuti-las, situá-las historicamente, diferenças culturais, éticas, regionais, ambientais, sociais. Assim como deve assumir diferentes suas tarefas de acordo com o que a comunidade em que está inserida espera dela: comunicação, conhecimento científico-empírico-religioso, sociabilidade, mediação (normatização e resistência).
Não se pode olhar para a humanidade e achar que devemos todos ter a mesma escola, a mesma religião, o mesmo tipo de família, a mesma sexualidade, a mesma cor. Pensar a diversidade é pensar numa ética humanista e humanitária que valorize as unidades para fortalecer o universo maior em que elas estão inseridas dando-lhes direitos e oportunidades iguais.
Pensar em direitos iguais é pensar no bem estar social, afetivo, econômico. Não se pode achar que ter direito a matar alguém é salutar. Pois tirar a vida de uma pessoa fere a todos os princípios da ordem da Norma em todas as culturas e religiões.

Não podemos continuar oferecendo para a classe média uma escola que apenas prepara seus filhos a manter o conforto e o padrão de vida que permita o consumir às custas de empregos públicos. Não podemos continuar a oferecer uma escola para a burguesia que apenas prepara seus filhos para como produzir riqueza e explorar o trabalho. Assim como, não podemos mais oferecer para o povo, assalariados, os pobres, os pretos, uma escola que os ensina apenas a sobreviver a custa de uma opressão silenciada. A escola não é mais garantia de sucesso, de educação, de saber que oportuniza igualdade de oportunidades. Os discursos são falácias questionadas desde a educação infantil por crianças, adolescentes, docentes e discentes. 

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